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4 de fevereiro de 2011

PROJETO DE INTEGRAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO EM DISCUSSÃO



PROJETO DE INTEGRAÇÃO DO SÃO FRANCISCO (CODEVASF OU DNOCS?), com breve comentário de João Suassuna

Caros amigos do SOSRiosBr 
Segue, abaixo, a matéria sobre o Projeto de Integração do Rio São Francisco veiculado no Programa radiofônico do jornalista Paulo Oliveira, da Rádio Verdes Mares, e na apreciada coluna do jornalista Egídio Serpa, do Diário do Nordeste no último dia 25. 
Por este simples “flash”, qualquer pessoa, menos avisada da Ciência Hidrológica e das peculiaridades nordestinas no que se refere à questão da água, poderia concluir ser inadmissível, contrária à técnica e a razão, a indicação da CODEVASF para ser a Operadora Federal do Projeto de Integração do Rio São Francisco, em detrimento do DNOCS. Refiro-me ao dado fornecido pelo citado jornalista quanto “à disponibilidade hídrica social do Ceará, de 442 m3/habitante/ano, que segundo critérios da Organização das Nações Unidas (ONU), significa sério problema de escassez de água. 
Já a disponibilidade hídrica social do Rio São Francisco é de 7.024 m3/habitante/ano, infinitamente superior à do Ceará, tomando este Estado como exemplo. Este simples dado comparativo entre o verdadeiro semiárido nordestino e o Vale do Rio São Francisco, onde a CODEVASF atua, mostra que esta Companhia não tem nenhum problema quanto à disponibilidade de água para cumprir sua finalidade principal que é a irrigação. 
Já o DNOCS, para cumprir os seus múltiplos objetivos (inclusive suprimento de água para as populações urbanas e rurais), teve que “fazer água”, que em toda área de sua atuação, ao contrário do Vale do Rio São Francisco, simplesmente não existia, principalmente em épocas de estiagens prolongadas que podem chegar a até oito anos seguidos (1950 a 1958). 
Isto mostra, também, quanto tem sido diferente o “modus facient” dos dois organismos citados que têm problemas bem distintos a resolver para cumprir suas finalidades institucionais. Aliás, a CODEVASF , é bom não esquecer disto, exerce suas atividades numa região de rio perene, detentora de uma das maiores vazões (m3/s) de rios do nosso País. 
Enfim, o DNOCS tem, efetivamente, muito mais afinidade com o semiárido nordestino do que a CODEVASF e a indicação desta última para ser a Operadora Federal do Projeto de Integração do Rio São Francisco, como disse acima, afronta a técnica e ao bom senso. Se os caros amigos me permitem esta comparação grosseira: é o mesmo que colocar um médico veterinário numa sala de cirurgia para operar o coração de um paciente humano. 
Abraços. 
Cássio Borges
Programa radiofônico do jornalista Paulo Oliveira, da Rádio Verdes Mares:
Veículo: Blog Egídio Serpa Cidade: Fortaleza Data: 25/01/11 Tipo de mídia: Portal
 
Ao custo de R$ 5,5 bilhões, o Governo Federal está construindo uma solução hídrica definitiva para o semiárido de Pernambuco, da Paraíba, do Ceará e do Rio Grande do Norte – o Projeto S. Francisco de Integração de Bacias.
“O custo de fazer é mais barato do que o de não fazer, pois são gastos, em épocas de seca, até R$ 3 bilhões para atender à emergência da estiagem”, justifica Cássio Borges, engenheiro aposentado do Dnocs, especialista em recursos hídricos, um dos defensores do empreendimento, que, tendo vencido uma oposição doentia, caminha agora para a sua fase final.
Ele tem falado para diferentes auditórios nordestinos e sudestinos, propagando seu discurso a favor do Projeto S. Francisco, que beneficiará, quando entrar em operação daqui a dois anos, 12 milhões de pessoas residentes em 390 municípios.
Cássio Borges revela um dado crucial: “A disponibilidade hídrica social no Ceará, de 442 m³ por habitante ao ano, é, segundo o critério de classificação da Organização das Nações Unidas (ONU), um sério problema de escassez de água.
Já a disponibilidade hídrica social do Rio São Francisco é de 7.024 m³ por habitante ao ano”.

Outro dado: “A relação entre o caudal do rio e a vazão a ser transportada é inferior a 1% – de 26 m³/s sobre uma vazão média de 2.850 m³/s na foz do rio, algo em torno de 0,77%”. Ele conclui: “O S. Francisco nem tomará conhecimento”, diz Borges.

Comentários
João Suassuna - joao.suassuna@fundaj.gov.br
A reivindicação do Cássio Borges pode parecer justa. Mas não se pode fazer esse tipo de apelo, sem antes se conhecer, e de forma aprofundada, as reais limitações hídricas do rio São Francisco. Talvez o Cássio não saiba, mas as baterias de termelétricas existentes na região estão acionadas em carga máxima, para auxiliar um sistema da geração de energia, no São Francisco, que anda cambaleante. Como ele pode afirmar que o rio não tomará conhecimento com a retirada volumétrica pretendida, para fins de abastecimento do povo, se atualmente não existem, sequer, os volumes necessários para gerar energia? Na sua falta de visão sistêmica, o nordestino acabará morrendo de sede, e o que é pior: no escuro.

José do Patrocínio Tomaz - patrociniotomaz@uol.com.br
Prezado João Suassuna
Este pessoal do Ceará gosta de distorcer as coisas, de forma a justificar as suas posições. Já me pronunciei sobre o conceito de disponibilidade hídrica social, criado pela ONU para comparar a situação hídrica dos continentes e seus países. Este conceito é dado pela relação entre a vazão média de longo período de uma bacia hidrográfica, sub-bacia ou conjunto de bacias e a sua população. O que o Cássio Borges e outros técnicos do Ceará fez, para calcular a disponibilidade hídrica da bacia do Jaguaribe, como forma de justificar a Transposição, foi dividir a vazão de regularização, com garantia de 100%, de uns poucos reservatórios superficiais (nem todos que tinham essa capacidade foram computados) e dividí-la pela população de então da bacia. Esta forma de cálculo, jamais poderia ser usada como medida da disponibilidade hídrica social. Simplesmente porque, algumas bacias, principalmente do continente europeu e da Ásia Ocidental, não têem (não precisaram ter, até o presente momento) reservatórios de regularização de rios que, como sabemos, são perenes. Como tal, as captações são feitas, via de regra, naturalmente. Quando muito, constroem-se diques para viabilizá-las. Assim sendo, para que se procedesse uma comparação, a ONU assumiu a condição natural de fluxo dessas bacias, descartando a intervenção humana. Nada mais correto. Mas, na hora de comparar com a do São Francisco, o pessoal do Ceará usou para a bacia do Velho Chico, a disponibilidade social da ONU. Quer dizer comparou grandezas distintas. Pelo critério da ONU, a água do São Francisco deveria se destinar a outras bacias da região Nordeste, não necessariamente semi-áridas, mas, geralmente úmidas. Isto porque estas regiões e suas bacias são, justamente, as mais urbanizadas, populosas, industrializadas, etc. onde as demandas hídricas são as maiores, a exemplo da região hidrográfica do médio e baixo curso do rio Paraíba. A disponibilidade hídrica social das bacia cearenses envolvidas no projeto de Transposição está apresentada no Quadro em anexo. A do Estado do Ceará e demais estados brasileiros se encontra publicada no livro de Aldo Rebouças et al, "Águas Doces do Brasil".
Abraços,
Patrocínio

É o Núcleo de Estudos do Semiárido (NESA), da Fundação Joaquim Nabuco, divulgando a realidade do Nordeste seco.
ENVIADO PELO COLABORADOR ENG. JOÃO SUASSUNA - FUND. JOAQUIM NABUCO - UFPE


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